Semana passada fui à casa da minha bisavó, e ficamos um tempo conversando. Acabei descobrindo que o primeiro filho dela, José, havia morrido meia hora após o parto. Depois disso, ela continuou a falar dos outros filhos.
Tentando entender quem era o mais velho, perguntei: “Então minha avó é a mais velha entre todos?”
Ela me repreendeu na hora, dizendo: “Não. O mais velho é o Josesinho, que já se foi.”
Aquilo foi um tapa na minha cara. Para mim, José não era tão importante, pois tinha nascido praticamente natimorto. Mas, para minha bisa, José era seu filho amado. O filho que nunca teve a oportunidade de se sentir amado. O filho que nunca teve a chance de ser, de fato, filho.
Eu o esqueci por um momento. Mas minha bisa mostrou que quem ama nunca esquece. Viver aquele momento com ela me fez perceber que, quando ela se for, José provavelmente será esquecido. Esquecido porque ninguém o amou além dela.
Viver essa experiência com ela me fez lembrar de Se a vida te der tangerinas, quando a Ae-sun perdeu seu filho e todos os dias colocava comida na janela para ele. É claro que ele não iria comer, afinal, ele estava morto. Mas acredito que ela colocava para si mesma, como um lembrete de que ainda se lembrava dele. Que ainda amava ele.
Vi esse mesmo comportamento da Ae-sun na minha bisa. E me doeu, porque acredito que ninguém saiba — nem mesmo eu — a dor que ela sentiu.
Acredito que ser amado é ser lembrado. José não pôde sentir esse amor, mas, após mais de meio século, é nítido que minha bisa — sua mãe — o amou. E ainda o ama, porque ainda se lembra dele.
Quando você ama alguém, esse amor fica tatuado na sua pele. É injetado nas suas veias e altera o seu DNA. Por isso, é impossível esquecer alguém que você amou. Você pode até querer enterrar, mas, no fundo — mesmo que não queira admitir — essa pessoa sempre estará em você. E você vai se lembrar dela nos momentos mais improváveis da sua vida. Quando ouvir uma música, comer um bolo ou quando estiver contando sobre a sua vida para a sua bisneta.
Não adianta fugir. Somos feitos com amor, por amor e de amor. E, quando esse amor nos encontra, é impossível esquecer.
Mesmo que você não admita. Mesmo que você tenha amado alguém que te machucou, apesar de tudo, a memórias ainda ama. Até porque, a alma reconhece o amor, pois ele é atemporal.
Então, se você estiver num relacionamento em que seu parceiro vive dizendo que “esqueceu” de você, é provável que ele não te ame com a pele, as veias e o DNA.
É isso my lovers. Espero que eu tenha conseguido expressar o que senti ao conversar com minha bisa.
Beijinhos, até o próximo post.
Belo conto...memoráveis memórias...um tanto de realidade das antigas, coisas que os novos tempos não tem... Parabéns
Você sempre tão necessária!